terça-feira, 28 de setembro de 2010

Canal Logístico de Luanda


Aqui há dias tive que enviar umas placas electrónicas de avião para Cabinda pois uns colegas meus estavam lá a trabalhar e precisavam delas. Como o Martins tinha ido no dia anterior despachar umas ferramentas também para Cabinda liguei-lhe a perguntar como tinha que fazer.
"Ah... e tal e coisa e depois falas com os seguranças que estão lá no terminal doméstico e eles encontram alguém que vai viajar para Cabinda e pedem à pessoa para levar a encomenda, depois tens é que dar uma gasosa. Eu dei três mil kwanzas.", "Tás mal ó quê? Não me estás a ver a passar a tarde a pedir às pessoas para levarem uma encomenda, só se forem muito tonhas é que levam mercadoria de outros em troca de três mil kwanzas. Eu quero saber como se envia por correio ou transportadora.", "Não dá, isso é só se forem coisas muito pesadas, para coisas pequenas é assim, não há outra maneira, senão sai muito caro e é os seguranças que pedem às pessoas, só tens que pedir aos seguranças.", "Deixa estar eu quando chegar lá descubro como se envia.".

Lá fui eu, todo pimpão, com o Pascoal em direcção ao terminal doméstico. Ainda não tínhamos entrado pelo portão do parque de estacionamento quando aparece um manfio a perguntar ao que íamos. "Pois... e tal e coiso e temos aqui umas cenas para enviar para Cabinda.", "Quando hoje? Querem despachar isso hoje? O último voo está mesmo a sair, o homem que está em Cabinda pode ir buscar a mercadoria ao aeroporto?".
Enquanto eu ligava aos colegas que estavam em Cabinda o "intermediário" ia dizendo "Eh pá, mas nós vamos fazer isto tudo legal, eu não envio isto por um gajo qualquer, é tudo legal, por correio. E o que está dentro das caixas? Preciso ver... Ah bem, isso pode ir na bagagem de mão, porreiro, só vou ali falar com o meu amigo do check-in.", "Olha e quanto é que isso vai custar?", "Eh pá, eu só fico com mil kwanzas, dás-me três mil, mas para mim é só mil kwanzas é que a gente vai fazer isto tudo legal, não é de qualquer maneira é tudo legal por correio."

Fomos entrando e ficamos ao lado do balcão de check-in, entra um rapaz e o "jeitoso" vai logo ter com ele, "eh pá, já vens muito tarde, o teu voo tá para sair, dá-me o bilhete e o teu BI que se calhar ainda consigo dar-te uma ajuda. O teu check-in já fechou pá, mas eu sou amigo e vou desenrascar-te". Aproximam-se do balcão de check-in e a rapariga diz que já fechou, vamos para o balcão ao lado, "Eu vou desenrascar-te pá, já vieste muito tarde, se eu não estava aqui perdias o avião, mas em troca tens que me levar uma caixinha.", "Hã? E o que é isso? Eu nem sei o que está aí.", "Isto é tudo legal, eu já estive a ver e é um pisca e uma correia de automóvel, diz só aí o teu número de telemóvel a eles e eles dizem-te o da pessoa que precisa disto, tu só tens que fixar esta caixa, apanhas no tapete e dás logo à pessoa que vai estar lá à tua espera. Não dá trabalho nenhum, eu também te estou aqui a desenrascar...".

Lá se vai a nossa mercadoria para o porão e o rapaz em direcção às portas de embarque. Dou os três mil kwanzas ao bacano e ele entrega mil ao amigo do balcão de check-in, enquanto vejo o "rapaz correio" a se afastar pergunto ao "senhor logístico", "Então e não dás mil kwanzas ao gajo que vai levar as cenas?", "Hã? Não pá, ele eu já ajudei, então não viste que se eu não o ajudasse ele já não ia voar? Muita sorte teve ele. Isto é mil para o meu amigo do chek-in que nos ajudou e é só dois mil para mim."

A verdade é que a encomenda chegou mesmo ao destino e aquele que fez o transporte foi o que não viu dinheiro nenhum.
Eu que pensava que ninguém aceitaria levar coisas de desconhecidos por três mil kwanzas afinal vi um jovem com ar de quem estuda na universidade levar uma encomenda a troco de nada ainda por cima sem se certificar do que estava realmente dentro das caixas.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

A minha rua

A minha rua tem muitos guardas. Durante a noite e só aqui à porta de casa há pelo menos quatro, um da casa onde vivo, outro da casa à direita, um da casa em frente e outro da mini-micro-mercearia em frente. Ainda assim, numa rua tão bem guardada, esta noite roubaram o vidro traseiro do meu jipinho, não tiraram mais nada do carro, nem cds, nem os 400Kz nem uma balança que estava na mala, só o vidro. Quatro guardas a guardar e os manfios tiveram tempo parar tirar o vidro, como raio é que se tira um vidro de um carro pelo lado de fora sem estragar nada?

Que um guarda  que trabalha de noite adormeça uma pessoa até compreende, que dois guardas adormeçam já parece estranho... mas não, na minha rua os quatro adormeceram (ou isso ou os outros como só estão a guardar a casa do lado, a da frente e a mini-mercearia veem roubar e não se importam porque não é nada do que estão a guardar). 
Cá no meu entender só pode ter acontecido o seguinte:
Como é muito inverosímil que quatro guardas que são pagos para guardar coisas durante a noite adormeçam todos na mesma noite só pode ter sido obra dos extra-terrestres. Como os ETs se sentem muito vigiados sempre que vão roubar coisas nos Estados Unidos com certeza resolveram vir para outras paragens. Infelizmente para mim escolheram Angola, apanharam esta rua escura com quatro guardas e zás... com uma qualquer luz muito brilhante induziram o sono em todos eles e desataram a procurar um vidro que servisse no ovni. Sim, onde raio pensam vocês que vão, os extra-terrestres, buscar peças para os ovnis quando algo se estraga porque chocaram com um pombo ou com um morcego?
Infelizmente para mim sou o único feliz proprietário de um Suzuki Jimny nesta rua, o resto do pessoal tem tudo daqueles jipes gigantescos ou carrinhas do género da strakar. Ora, o único vidro maneirinho estava logo ali, enfiado na traseira do meu Jimny, não tem mais nada, com uma luz muito brilhante vai de puxar o vidro para cima e já está. Os guardas não se lembram de nada e só desapareceu um vidro durante a noite.


Bernardo Marques.

sábado, 11 de setembro de 2010

A rua

A rua em Luanda é o centro de negócios, tudo se compra e tudo se vende no passeio ou na berma da estrada.
Enquanto que nos semáforos da tuga só encontramos pedinchas ou vendedores de pensos rápidos aqui enquanto esperamos pelo verde ou estamos parados no transito podemos comprar de tudo. Desde fruta (uvas, morangos, mangas, ananases, castanha caju entre muitas outras) a bebidas (cerveja, cola, sumos) passando por mobílias, cintos, tampas de sanita, telemóveis, óculos de sol, roupas, varões de cortinados, jornais e revistas, fichas triplas, cadeados, carregadores e baterias para telemóveis, tudo... seja lá o que for que precisem há alguém que na berma de uma estrada qualquer está a vender. O mais engraçado é que há estradas mais especializadas numas coisas do que noutras. Há estradas em que o pessoal vende maioritariamente mobílias (por catálogo), outras têm mais fruta e outras é mais telemóveis. Já nas estradas mais movimentadas e mais sujeitas a demoras como a estrada a Samba ou a avenida Ho Chi Min vende-se de tudo. Se por acaso, a fila em que estão parados andar a meio de uma transacção económica não há qualquer problema, por norma o vendedor vai correndo ao lado do carro até que a fila pare de novo ou dê para encostar à berma. 
Mas não pensem que só quem anda de carro consegue fazer as suas comprinhas, nada disso, para quem anda a pé há tudo isto e muito mais, o luxo dos luxos é a manicure e pédicure, algo em que só reparei ultimamente que tenho feito alguns quilómetros a pé pela cidade. Um sonho para qualquer moçoila. Aqui em qualquer passeio encontram-se jovens rapazes bem constituídos com inúmeros vernizes, ferramentas e produtos de cosmética que desconheço (nunca fui tratar as minhas unhas) e é frequente ver-se uma rapariga sentada numa cadeira com um jovem a tratar-lhe cuidadosamente das mãos ao mesmo tempo que outro lhe vai tratando dos pés, há lá luxo maior? Quando vir um par de moçoilas jeitosas manicuras-pédicuras até eu vou tratar das minhas unhas. De certeza vale bem os 100 ou 200 Kwanzas que deve custar.

Até outro dia,
Bernardo.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Sem assunto

Há duas melgas que não se cansam de me chatear para escrever... eu estava à espera de ter a minha casa para ter algo sobre o que falar... mas para ver se elas não encomendam alguém para me partir os dentes vou falar do tempo.

Já voltei para Luanda no dia 31 de Julho. O tempo (meteorológico) aqui tem estado excelente. Não tenho nenhum termómetro à mão mas penso que a temperatura deve rondar os vinte e tal graus tanto de dia como de noite. Não está calor nem está frio, nem chove nem faz sol, anda-se à vontade com uma t-shirt mas também não se transpira.
Não dá para fazer praia ao fim de semana mas dá para ir almoçar um mufete à Chicala e dar um passeio pela praia sem se ficar incomodado com o calor.

Sobre o tempo é tudo.

Quase que já tenho a minha casinha. Encontrei um pequeno apartamento num edifício antigo (pré-75), o edifício tem 3 elevadores que devem estar parados há uma vintena de anos, tem as paredes grafitadas mas é limpo e o apartamento é bastante jeitosinho. Está arranjado, tem gerador, bomba de água e ar condicionado, está quase todo mobilado e é só 'muito caro'.
Não reparei se aqui há contadores de água e luz ou não mas uma coisa boa aqui é que se paga 600Kz de água independentemente de quanto se gasta e não tenho bem a certeza do valor da electricidade (penso que ronda os 1300Kz) mas sei que também não importa o consumo, é um valor fixo o que permite ter luzinhas de natal o ano inteiro sem que se pague mais por isso.

Bernardo.