quinta-feira, 24 de junho de 2010

Intervalo

Agora que estou em Portugal a fazer o primeiro intervalinho e fui visitar alguns amigos reparo que a grande maioria dos leitores do meu blog retiveram uma de duas ideias essenciais.

ideia número 1:
- Angola é o inferno na terra. Melhor seria emigrar para o pólo norte e ter que sobreviver da comida que conseguisse roubar aos ursos polares.

ideia número 2:
- Terei uma vida breve que irá terminar precocemente às mãos do primeiro Angolano que calhe de ler os meus textos e tenha a sorte de passar por mim na rua.

Ao reler o que escrevi nestes últimos tempos noto que só conto coisas 'menos boas' e até mesmo quando escrevo para falar das praias paradisíacas há sempre um tropeção qualquer para manchar a pintura.
Isso deve-se ao facto de o que me acontece de realmente diferente, aquilo que choca porque nunca antes me tinha acontecido são as coisas más. São apenas essas que conto... não tenho pachorra para vir aqui escrever umas patacoadas sobre o dia todos os dias e como tal apareço apenas quando algo extraordinário acontece. Como é óbvio houve setenta e alguns dias perfeitamente normais dos quais não falei. Faltam aqui setenta posts a dizer apenas 'hoje foi um dia bonzinho'.
Em Portugal também acontecem coisas de meter medo, eu é que nunca escrevi sobre elas senão tenho quase a certeza que a maioria dos meus leitores (já são 13) iria logo emigrar para um outro país qualquer sobre o qual eu não andasse a escrever.

Imagino que um qualquer norueguês está neste momento emigrado no Porto e descreve, no seu blog, a forma nojenta como nós damos dinheiro a uns maltrapilhos que nos indicam onde estacionar, imagino mesmo um post onde descreve o horror de quando o canalizador foi lá a casa e lhe disse que 'Se for sem factura é mais barato...' e como ele ficou aterrorizado por ter um criminoso dentro de casa, será que lhe ia violar a mulher? Ele até pode ter muitas saudades da neve e nevar no Porto que não vai falar sobre isso porque para ele neva todos os dias, vai apenas contar do dia em que queimou as costas todas, que não conseguiu dormir uma semana, só porque trocou de t-shirt à luz do dia.
Infelizmente, nenhum de nós sabe ler norueguês e é apenas por isso que não encontramos este blog de que vos falo.
Em Angola sou eu o norueguês, só não estou habituado às coisas normais.


Para informação de todos:
Eu gosto de Angola.

Em Angola vive-se uma razoável normalidade. Come-se bem, anda-se à vontade pela rua sem medo de ser assaltado e pode-se fazer tudo o que se faz numa vida normal.
Tirando o factor dinheiro, porque para viver em Angola convém ter muito dinheiro, na minha opinião Angola é um sitio perfeitamente normal, tem apenas a agravante de que só nos apercebemos disso um mês depois de lá estar, que é sensivelmente o tempo que demoramos para nos habituarmos a todas aquelas coisas que nunca antes tínhamos visto.

Quando tiver lá a minha Tini comigo iremos passear à fartazana e tirar fotografias a monte para poder escrever sobre o que Angola tem de bom.

Até à próxima,
Bernardo.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Só aqui...


Comecei a minha busca por um apartamento em Luanda. 
Aqui há de tudo, do 'muito bom' ao 'extremamente mau' sendo este último o mais comum. 
Já relativamente ao preço esse vai do 'extremamente alto' ao 'ridiculamente alto'.
Como procuro um preço apenas 'extremamente alto' não vi nada do 'muito bom' mas já vi uma 'barraca' à qual me levaram ludibriando-me dizendo que iria ver uma 'casa' e vi dois 'buracos' que me tentaram convencer que seriam 'apartamentos' de dois quartos.
O mal é que 'extremamente alto' para qualquer comum mortal não é o mesmo que 'extremamente alto' para Luanda, pediram-me 2000 USD pela 'casa', 3000 USD por um dos apartamentos e 4000 USD pelo outro.
Estes são os valores normais para este tipo de 'casas', umas sem casa de banho e outras com uma cozinha completamente vazia (sem lava-loiças). Como sei que a imaginação de um qualquer comum europeu  não consegue atingir como são as casas de que falo ponho aqui imagens de uma proposta que me foi enviada por uma imobiliária (sim é verdade, aqui as imobiliárias têm mesmo casas destas em carteira e nem sequer são arrumadas para a fotografia).
Não tenho qualquer intenção de ofender os proprietários ou qualquer outra pessoa nem denegrir a imagem de ninguém, coloco-as apenas a título informativo como exemplo do que se tenta alugar por 4000 USD/mês em Luanda e que em Portugal nenhuma imobiliária pegaria. É um apartamento normal, num prédio normal de uma rua normal, não vos estou a mostrar uma barraca num musseque porque essas nem sequer eu imagino como serão pois ainda não tive o privilégio de conhecer nenhuma.
Aqui ficam as fotos:















Não quero que pensem que aqui é tudo assim, por isso deixo os links para que possam ver também o que há de 'muito bom' embora os valores sejam bastante acima daqueles que especifiquei aqui.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Já era

Já está... 

Ao fim de 1127 Km, quatro semanas (ou serão cinco?) de carro novo acabou-se a contagem para o record de 'mais longa duração de um carro sem mossas em Luanda'.
Uma besta 'ajeitou-me' o para-choques traseiro que estava muito feio assim, todo direitinho. Como eu me desvio deles enquanto conduzo trataram de dar o 'jeitinho' quando o pobre veículo estava a descansar, estacionado, durante a noite, às 23h (a besta já devia vir bem regada) e trataram de fugir logo de imediato. Assim, aquele que era antes conhecido como 'o anormal da chapa imaculada' ou o 'virgem de traseira' pode agora integrar-se muito mais facilmente nesta comunidade de veículos amachucados. Enquanto antes era desprezado por todos, sempre cabisbaixo e maltratado na estrada agora já pode andar de capô erguido e olhar os outros de frente, nos faróis. Agora sim, é um verdadeiro veículo angolano.
Bem que o mandei arranjar logo mas ficou com cicatrizes no para-choques que são para sempre para além que tem, ainda, o vidro do pisca traseiro direito partido (vamos a ver se não vou ter que dispensar umas 'gasosas' à conta disso).

Em breve irei voltar 'lá na tuga' e o pobre vai ficar estacionado semanas à minha espera... estou para ver como vai estar a traseira quando voltar.