sábado, 20 de novembro de 2010

Frutos Exóticos



Eu sei que aí na Tuga se encontram frutos exóticos nos Jumbos, Continentes e afins, uns mais exóticos que outros uns mais caros, outros mais baratos mas uma coisa vos garanto não se compara ao que se vê por aqui. Como deste lado do mundo há mangas a pontapé e côcos ao monte os frutos exóticos não são os mesmos daí. O fruto mais exótico de todos, aquele que nunca ponho dente pois até dói só de pensar comprar, é a cereja que vi à venda hoje pela módica quantia de 60€ o quilo. O segundo lugar da lista de exóctixidade é ocupado pelo morango e pelo dióspiro que se vendem a cerca de 35€ o quilo, depois disso entre os 25€ e os 35€ por quilo encontram-se romãs, nectarinas, pêssegos, uvas e kiwis.
Fazer mangustos no dia de São Martinho é algo reservado aos abastados pois as castanhas custam 25€ ao quilo e se quiserem regar as castanhas com um qualquer vinho o preço médio das garrafas mais acessíveis anda entre os 10€ e os 15€.

Aqui há dias quase tive que dar umas valentes porradas na minha Tina pois ela cometeu a ousadia de me trazer dois pêssegos para casa. Vocês estão bem a ver a responsabilidade que é trazer dois pêssegos? Gasta-se ali uma fortuna e se depois não sabem tão bem como esperávamos? E se estão ainda um pouco verdes? Ou maduros demais? Uma pessoa desgraça ali a semana num instante, é que nem consegue trabalhar sossegado o resto da semana sem pensar no raio dos pêssegos.

Até outro dia,
Bernardo (e Tini)

Nota: câmbio feito à Bernardo de 1 Kwanza = 1 cêntimo, na realidade os preços são umas migalhas a menos.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Canal Logístico de Luanda


Aqui há dias tive que enviar umas placas electrónicas de avião para Cabinda pois uns colegas meus estavam lá a trabalhar e precisavam delas. Como o Martins tinha ido no dia anterior despachar umas ferramentas também para Cabinda liguei-lhe a perguntar como tinha que fazer.
"Ah... e tal e coisa e depois falas com os seguranças que estão lá no terminal doméstico e eles encontram alguém que vai viajar para Cabinda e pedem à pessoa para levar a encomenda, depois tens é que dar uma gasosa. Eu dei três mil kwanzas.", "Tás mal ó quê? Não me estás a ver a passar a tarde a pedir às pessoas para levarem uma encomenda, só se forem muito tonhas é que levam mercadoria de outros em troca de três mil kwanzas. Eu quero saber como se envia por correio ou transportadora.", "Não dá, isso é só se forem coisas muito pesadas, para coisas pequenas é assim, não há outra maneira, senão sai muito caro e é os seguranças que pedem às pessoas, só tens que pedir aos seguranças.", "Deixa estar eu quando chegar lá descubro como se envia.".

Lá fui eu, todo pimpão, com o Pascoal em direcção ao terminal doméstico. Ainda não tínhamos entrado pelo portão do parque de estacionamento quando aparece um manfio a perguntar ao que íamos. "Pois... e tal e coiso e temos aqui umas cenas para enviar para Cabinda.", "Quando hoje? Querem despachar isso hoje? O último voo está mesmo a sair, o homem que está em Cabinda pode ir buscar a mercadoria ao aeroporto?".
Enquanto eu ligava aos colegas que estavam em Cabinda o "intermediário" ia dizendo "Eh pá, mas nós vamos fazer isto tudo legal, eu não envio isto por um gajo qualquer, é tudo legal, por correio. E o que está dentro das caixas? Preciso ver... Ah bem, isso pode ir na bagagem de mão, porreiro, só vou ali falar com o meu amigo do check-in.", "Olha e quanto é que isso vai custar?", "Eh pá, eu só fico com mil kwanzas, dás-me três mil, mas para mim é só mil kwanzas é que a gente vai fazer isto tudo legal, não é de qualquer maneira é tudo legal por correio."

Fomos entrando e ficamos ao lado do balcão de check-in, entra um rapaz e o "jeitoso" vai logo ter com ele, "eh pá, já vens muito tarde, o teu voo tá para sair, dá-me o bilhete e o teu BI que se calhar ainda consigo dar-te uma ajuda. O teu check-in já fechou pá, mas eu sou amigo e vou desenrascar-te". Aproximam-se do balcão de check-in e a rapariga diz que já fechou, vamos para o balcão ao lado, "Eu vou desenrascar-te pá, já vieste muito tarde, se eu não estava aqui perdias o avião, mas em troca tens que me levar uma caixinha.", "Hã? E o que é isso? Eu nem sei o que está aí.", "Isto é tudo legal, eu já estive a ver e é um pisca e uma correia de automóvel, diz só aí o teu número de telemóvel a eles e eles dizem-te o da pessoa que precisa disto, tu só tens que fixar esta caixa, apanhas no tapete e dás logo à pessoa que vai estar lá à tua espera. Não dá trabalho nenhum, eu também te estou aqui a desenrascar...".

Lá se vai a nossa mercadoria para o porão e o rapaz em direcção às portas de embarque. Dou os três mil kwanzas ao bacano e ele entrega mil ao amigo do balcão de check-in, enquanto vejo o "rapaz correio" a se afastar pergunto ao "senhor logístico", "Então e não dás mil kwanzas ao gajo que vai levar as cenas?", "Hã? Não pá, ele eu já ajudei, então não viste que se eu não o ajudasse ele já não ia voar? Muita sorte teve ele. Isto é mil para o meu amigo do chek-in que nos ajudou e é só dois mil para mim."

A verdade é que a encomenda chegou mesmo ao destino e aquele que fez o transporte foi o que não viu dinheiro nenhum.
Eu que pensava que ninguém aceitaria levar coisas de desconhecidos por três mil kwanzas afinal vi um jovem com ar de quem estuda na universidade levar uma encomenda a troco de nada ainda por cima sem se certificar do que estava realmente dentro das caixas.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

A minha rua

A minha rua tem muitos guardas. Durante a noite e só aqui à porta de casa há pelo menos quatro, um da casa onde vivo, outro da casa à direita, um da casa em frente e outro da mini-micro-mercearia em frente. Ainda assim, numa rua tão bem guardada, esta noite roubaram o vidro traseiro do meu jipinho, não tiraram mais nada do carro, nem cds, nem os 400Kz nem uma balança que estava na mala, só o vidro. Quatro guardas a guardar e os manfios tiveram tempo parar tirar o vidro, como raio é que se tira um vidro de um carro pelo lado de fora sem estragar nada?

Que um guarda  que trabalha de noite adormeça uma pessoa até compreende, que dois guardas adormeçam já parece estranho... mas não, na minha rua os quatro adormeceram (ou isso ou os outros como só estão a guardar a casa do lado, a da frente e a mini-mercearia veem roubar e não se importam porque não é nada do que estão a guardar). 
Cá no meu entender só pode ter acontecido o seguinte:
Como é muito inverosímil que quatro guardas que são pagos para guardar coisas durante a noite adormeçam todos na mesma noite só pode ter sido obra dos extra-terrestres. Como os ETs se sentem muito vigiados sempre que vão roubar coisas nos Estados Unidos com certeza resolveram vir para outras paragens. Infelizmente para mim escolheram Angola, apanharam esta rua escura com quatro guardas e zás... com uma qualquer luz muito brilhante induziram o sono em todos eles e desataram a procurar um vidro que servisse no ovni. Sim, onde raio pensam vocês que vão, os extra-terrestres, buscar peças para os ovnis quando algo se estraga porque chocaram com um pombo ou com um morcego?
Infelizmente para mim sou o único feliz proprietário de um Suzuki Jimny nesta rua, o resto do pessoal tem tudo daqueles jipes gigantescos ou carrinhas do género da strakar. Ora, o único vidro maneirinho estava logo ali, enfiado na traseira do meu Jimny, não tem mais nada, com uma luz muito brilhante vai de puxar o vidro para cima e já está. Os guardas não se lembram de nada e só desapareceu um vidro durante a noite.


Bernardo Marques.

sábado, 11 de setembro de 2010

A rua

A rua em Luanda é o centro de negócios, tudo se compra e tudo se vende no passeio ou na berma da estrada.
Enquanto que nos semáforos da tuga só encontramos pedinchas ou vendedores de pensos rápidos aqui enquanto esperamos pelo verde ou estamos parados no transito podemos comprar de tudo. Desde fruta (uvas, morangos, mangas, ananases, castanha caju entre muitas outras) a bebidas (cerveja, cola, sumos) passando por mobílias, cintos, tampas de sanita, telemóveis, óculos de sol, roupas, varões de cortinados, jornais e revistas, fichas triplas, cadeados, carregadores e baterias para telemóveis, tudo... seja lá o que for que precisem há alguém que na berma de uma estrada qualquer está a vender. O mais engraçado é que há estradas mais especializadas numas coisas do que noutras. Há estradas em que o pessoal vende maioritariamente mobílias (por catálogo), outras têm mais fruta e outras é mais telemóveis. Já nas estradas mais movimentadas e mais sujeitas a demoras como a estrada a Samba ou a avenida Ho Chi Min vende-se de tudo. Se por acaso, a fila em que estão parados andar a meio de uma transacção económica não há qualquer problema, por norma o vendedor vai correndo ao lado do carro até que a fila pare de novo ou dê para encostar à berma. 
Mas não pensem que só quem anda de carro consegue fazer as suas comprinhas, nada disso, para quem anda a pé há tudo isto e muito mais, o luxo dos luxos é a manicure e pédicure, algo em que só reparei ultimamente que tenho feito alguns quilómetros a pé pela cidade. Um sonho para qualquer moçoila. Aqui em qualquer passeio encontram-se jovens rapazes bem constituídos com inúmeros vernizes, ferramentas e produtos de cosmética que desconheço (nunca fui tratar as minhas unhas) e é frequente ver-se uma rapariga sentada numa cadeira com um jovem a tratar-lhe cuidadosamente das mãos ao mesmo tempo que outro lhe vai tratando dos pés, há lá luxo maior? Quando vir um par de moçoilas jeitosas manicuras-pédicuras até eu vou tratar das minhas unhas. De certeza vale bem os 100 ou 200 Kwanzas que deve custar.

Até outro dia,
Bernardo.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Sem assunto

Há duas melgas que não se cansam de me chatear para escrever... eu estava à espera de ter a minha casa para ter algo sobre o que falar... mas para ver se elas não encomendam alguém para me partir os dentes vou falar do tempo.

Já voltei para Luanda no dia 31 de Julho. O tempo (meteorológico) aqui tem estado excelente. Não tenho nenhum termómetro à mão mas penso que a temperatura deve rondar os vinte e tal graus tanto de dia como de noite. Não está calor nem está frio, nem chove nem faz sol, anda-se à vontade com uma t-shirt mas também não se transpira.
Não dá para fazer praia ao fim de semana mas dá para ir almoçar um mufete à Chicala e dar um passeio pela praia sem se ficar incomodado com o calor.

Sobre o tempo é tudo.

Quase que já tenho a minha casinha. Encontrei um pequeno apartamento num edifício antigo (pré-75), o edifício tem 3 elevadores que devem estar parados há uma vintena de anos, tem as paredes grafitadas mas é limpo e o apartamento é bastante jeitosinho. Está arranjado, tem gerador, bomba de água e ar condicionado, está quase todo mobilado e é só 'muito caro'.
Não reparei se aqui há contadores de água e luz ou não mas uma coisa boa aqui é que se paga 600Kz de água independentemente de quanto se gasta e não tenho bem a certeza do valor da electricidade (penso que ronda os 1300Kz) mas sei que também não importa o consumo, é um valor fixo o que permite ter luzinhas de natal o ano inteiro sem que se pague mais por isso.

Bernardo.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Intervalo

Agora que estou em Portugal a fazer o primeiro intervalinho e fui visitar alguns amigos reparo que a grande maioria dos leitores do meu blog retiveram uma de duas ideias essenciais.

ideia número 1:
- Angola é o inferno na terra. Melhor seria emigrar para o pólo norte e ter que sobreviver da comida que conseguisse roubar aos ursos polares.

ideia número 2:
- Terei uma vida breve que irá terminar precocemente às mãos do primeiro Angolano que calhe de ler os meus textos e tenha a sorte de passar por mim na rua.

Ao reler o que escrevi nestes últimos tempos noto que só conto coisas 'menos boas' e até mesmo quando escrevo para falar das praias paradisíacas há sempre um tropeção qualquer para manchar a pintura.
Isso deve-se ao facto de o que me acontece de realmente diferente, aquilo que choca porque nunca antes me tinha acontecido são as coisas más. São apenas essas que conto... não tenho pachorra para vir aqui escrever umas patacoadas sobre o dia todos os dias e como tal apareço apenas quando algo extraordinário acontece. Como é óbvio houve setenta e alguns dias perfeitamente normais dos quais não falei. Faltam aqui setenta posts a dizer apenas 'hoje foi um dia bonzinho'.
Em Portugal também acontecem coisas de meter medo, eu é que nunca escrevi sobre elas senão tenho quase a certeza que a maioria dos meus leitores (já são 13) iria logo emigrar para um outro país qualquer sobre o qual eu não andasse a escrever.

Imagino que um qualquer norueguês está neste momento emigrado no Porto e descreve, no seu blog, a forma nojenta como nós damos dinheiro a uns maltrapilhos que nos indicam onde estacionar, imagino mesmo um post onde descreve o horror de quando o canalizador foi lá a casa e lhe disse que 'Se for sem factura é mais barato...' e como ele ficou aterrorizado por ter um criminoso dentro de casa, será que lhe ia violar a mulher? Ele até pode ter muitas saudades da neve e nevar no Porto que não vai falar sobre isso porque para ele neva todos os dias, vai apenas contar do dia em que queimou as costas todas, que não conseguiu dormir uma semana, só porque trocou de t-shirt à luz do dia.
Infelizmente, nenhum de nós sabe ler norueguês e é apenas por isso que não encontramos este blog de que vos falo.
Em Angola sou eu o norueguês, só não estou habituado às coisas normais.


Para informação de todos:
Eu gosto de Angola.

Em Angola vive-se uma razoável normalidade. Come-se bem, anda-se à vontade pela rua sem medo de ser assaltado e pode-se fazer tudo o que se faz numa vida normal.
Tirando o factor dinheiro, porque para viver em Angola convém ter muito dinheiro, na minha opinião Angola é um sitio perfeitamente normal, tem apenas a agravante de que só nos apercebemos disso um mês depois de lá estar, que é sensivelmente o tempo que demoramos para nos habituarmos a todas aquelas coisas que nunca antes tínhamos visto.

Quando tiver lá a minha Tini comigo iremos passear à fartazana e tirar fotografias a monte para poder escrever sobre o que Angola tem de bom.

Até à próxima,
Bernardo.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Só aqui...


Comecei a minha busca por um apartamento em Luanda. 
Aqui há de tudo, do 'muito bom' ao 'extremamente mau' sendo este último o mais comum. 
Já relativamente ao preço esse vai do 'extremamente alto' ao 'ridiculamente alto'.
Como procuro um preço apenas 'extremamente alto' não vi nada do 'muito bom' mas já vi uma 'barraca' à qual me levaram ludibriando-me dizendo que iria ver uma 'casa' e vi dois 'buracos' que me tentaram convencer que seriam 'apartamentos' de dois quartos.
O mal é que 'extremamente alto' para qualquer comum mortal não é o mesmo que 'extremamente alto' para Luanda, pediram-me 2000 USD pela 'casa', 3000 USD por um dos apartamentos e 4000 USD pelo outro.
Estes são os valores normais para este tipo de 'casas', umas sem casa de banho e outras com uma cozinha completamente vazia (sem lava-loiças). Como sei que a imaginação de um qualquer comum europeu  não consegue atingir como são as casas de que falo ponho aqui imagens de uma proposta que me foi enviada por uma imobiliária (sim é verdade, aqui as imobiliárias têm mesmo casas destas em carteira e nem sequer são arrumadas para a fotografia).
Não tenho qualquer intenção de ofender os proprietários ou qualquer outra pessoa nem denegrir a imagem de ninguém, coloco-as apenas a título informativo como exemplo do que se tenta alugar por 4000 USD/mês em Luanda e que em Portugal nenhuma imobiliária pegaria. É um apartamento normal, num prédio normal de uma rua normal, não vos estou a mostrar uma barraca num musseque porque essas nem sequer eu imagino como serão pois ainda não tive o privilégio de conhecer nenhuma.
Aqui ficam as fotos:















Não quero que pensem que aqui é tudo assim, por isso deixo os links para que possam ver também o que há de 'muito bom' embora os valores sejam bastante acima daqueles que especifiquei aqui.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Já era

Já está... 

Ao fim de 1127 Km, quatro semanas (ou serão cinco?) de carro novo acabou-se a contagem para o record de 'mais longa duração de um carro sem mossas em Luanda'.
Uma besta 'ajeitou-me' o para-choques traseiro que estava muito feio assim, todo direitinho. Como eu me desvio deles enquanto conduzo trataram de dar o 'jeitinho' quando o pobre veículo estava a descansar, estacionado, durante a noite, às 23h (a besta já devia vir bem regada) e trataram de fugir logo de imediato. Assim, aquele que era antes conhecido como 'o anormal da chapa imaculada' ou o 'virgem de traseira' pode agora integrar-se muito mais facilmente nesta comunidade de veículos amachucados. Enquanto antes era desprezado por todos, sempre cabisbaixo e maltratado na estrada agora já pode andar de capô erguido e olhar os outros de frente, nos faróis. Agora sim, é um verdadeiro veículo angolano.
Bem que o mandei arranjar logo mas ficou com cicatrizes no para-choques que são para sempre para além que tem, ainda, o vidro do pisca traseiro direito partido (vamos a ver se não vou ter que dispensar umas 'gasosas' à conta disso).

Em breve irei voltar 'lá na tuga' e o pobre vai ficar estacionado semanas à minha espera... estou para ver como vai estar a traseira quando voltar.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Mussulo


Por apenas 500Kz há um monte de marmanjos que vão brigar para vos poderem levar no seu barco até ao paraíso. 'Chefinho vem aqui', 'Chefia olha esse', 'Pai grande tem este aqui' dizem eles enquanto apontam para os seus barcos. Escolhemos um aleatoriamente e lá vamos nós a voar sobre as águas até ao Mussulo...
Apesar de já ser inverno e estar cada vez mais frio (pelo menos a acreditar no que dizem os angolanos) estão uns 30 graus, um sol de queimar pretos, a areia consegue grelhar os pés de qualquer um que se aventure a ir dar um passeiozinho descalço (sei-o por experiencia própria) e a água é quente.
Um sitio espetacular onde certamente irei passar muitos fins de semana invernosos com a minha Tini.
Ficam as fotos, de apenas um pequeno pedaço do Mussulo, no álbum:

Bernardo.

domingo, 16 de maio de 2010

Conduzir em Luanda



Agora que já conduzo há umas três semanas, tenho 600Km percorridos em Luanda e devo ser detentor do recorde de "mais longa duração de um veículo (em África) sem levar um 'jeitinho na chapa'" aprendi umas regras básicas de condução que aqui deixo, pode ser que venham a ser úteis a alguém.

Regra nº 1 - Faixas de rodagem:

Se a estrada tiver mais do que uma faixa deve-se conduzir sempre na faixa mais à esquerda, a da direita serve apenas para ultrapassar.
Listo de seguida algumas coisas menos agradáveis que é mais provavel que aconteçam a quem anda pela direita por mais do que o tempo estritamente necessário a uma ultrapassagem:
- A bófia manda parar apenas aqueles que andam na faixa da direita. Os policias estão sempre na berma ou no passeio e como qualquer outra pessoa com o juízinho todo, não gostam de arriscar a vida, como tal, não vão à terceira faixa buscar um gajo e pedir-lhe para encostar à berma. Assim, se conduzirmos sempre pela esquerda só somos apanhados nas estradas de apenas uma faixa
- Os candongueiros encostam à berma para carregar (e de que maneira) e descarregar pessoas. Como qualquer outro condutor de Luanda ou não tem piscas ou não sabe para que servem, e arrancam sempre sem olhar se vem alguém. Têm dois motivos para não olhar, primeiro têm prioridade (a regra nº 2 é a das prioridades), segundo, se ninguém anda na faixa da direita e não qual o interesse em perder tempo a olhar?
Num percurso de menos de 10Km em que circulei pela faixa da direita quase me entraram três iáces pela porta do passageiro.
- O pessoal que quer passar um outro veículo, que vá à sua frente na faixa da esquerda, tem que mudar para a faixa da direita, se vocês calharem de estar lá azar... quem vai ultrapassar tem prioridade e muda de faixa na mesma, claro que isto acontece sem pisca e sem olhar, o mais provável até, é que o carro não tenha espelhos (aqui, para além de auto-rádios roubam espelhos, pneus suplentes, centralinas, piscas, vidros, etc.).
No mesmo percurso em que quase levei com três iáces em cima tive que me desviar de dois ultrapassadores porque apesar de eu estar lá eles sabiam que eu me ia desviar, quem anda a engonhar na faixa da direita tem mais é que se desviar para quem quer passar os que vão na faixa da esquerda.

Regra nº 2 - Prioridade:

A estrada é de todos e como tal todos têm prioridade, ninguém é mais importante que os outros.
Aqui não interessa quem vem da esquerda ou da direita, se está a sair de um estacionamento ou a entrar numa rotunda, se tem um stop ou se entra numa auto-estrada, quem vai a conduzir tem sempre prioridade e quem meter a frente primeiro é que passa primeiro, o outro tem que parar caramba. Não há regra mais simples que esta.

Regra nº 3 - Cedência de passagem:

Cedência de quê? Mas se tenho prioridade passo eu como é lógico. 
Aqui ninguém dá um centímetro para outro passar.
Mas então como se vira à esquerda?
Esperar que alguém pare para vocês passarem é irracional porque ninguém vai parar, e esperar que não venha veículo nenhum é sinónimo de esperar até à manhã seguinte. Assim quando uma pessoa tem que virar à esquerda ou entrar numa estrada principal e estão sempre a passar veículos tem que ir metendo a frente aos poucos até obrigar alguém a parar. Se tiver que cruzar mais do que uma faixa tem que ir metendo devagar a frente na próxima faixa até obrigar outro a parar e assim sucessivamente até conseguir passar.

Para ilustrar ainda mais a regra da cedência de passagem suponhamos a seguinte situação:
Estamos numa fila interminável e chegamos a um cruzamento onde quem vem na estrada perpendicular à nossa já não consegue passar, apesar de terem a via deles completamente desobstruída, porque o veículo à nossa frente lhes impede a passagem. Se aquele que está à nossa frente avançar 1m o que devemos fazer? Ficar onde estamos para que os outros possam passar (não vão para o mesmo lado que nós e a nossa fila contínua parada), ou avançar 1m e passamos a ser nós a impedir a passagem dos outros carros? 
Vejamos como pensa o condutor de Luanda:
1 - Eu tenho prioridade.
2 - Fica a faltar menos 1m para chegar ao meu destino.
3 - Eles não são mais do que eu, se eu vou passar aqui as próximas duas horas vamos todos passar aqui as próximas duas horas.

A decisão é óbvia. Ninguém fica parado quando pode avançar 1m, até que fosse só 1cm avançava-se na mesma, mas que raio de pergunta parva, qualquer dia vamos a ver e até se vai parar para os outros passarem, não?

Regra nº 4 - Passadeiras:

Na aproximação a uma passadeira com pessoas à espera para passar acelera-se sempre, não lhes vá dar a ideia de passar mesmo e termos que parar, onde é que já se viu!

Regra nº 5 - Bermas:

As bermas servem para ultrapassar um veiculo que esteja ultrapassar outro ou alguém que vá na faixa da direita a engonhar.

Estas são apenas as regras mais básicas que todos os Luandenses (estrangeiros que conduzem em Luanda incluídos) nascem a saber. As restantes aprendem-se com a experiência.

Até à próxima,
Bernardo.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Angola, terra de contrastes

Manhã:

Hoje, um colega meu (angolano) aleijou-se e eu levei-o a um 'centro de saúde' de Luanda.
Saímos da estrada alcatroada seguindo umas indicações que nos tinham dado para chegar ao centro de saúde. No meio de ruas de terra vermelha, entre barracas de toda a espécie e feitio com muito lixo na berma da estrada, lá estava ele, uma barraca um pouco melhor que as restantes mas ainda assim não passava de umas paredes velhas e esburacadas e um telhado de Zinco, um espaço pequeno... mais pequeno do que qualquer centro de saúde que alguma vez tenha visto.
Lá fora o cheiro do lixo era demasiadamente intenso, lá dentro a luz era fraca, o chão sujo, com terra em cima dos ajulejos brancos, bancos de lata todos amolgados mais velhos do que eu e gente, muita gente, a cheirar a suor... Era um sitio em que, atrevo-me dizer, pelo aspecto do que se via da porta, se fosse uma casa de banho pública (em Portugal), eu teria relutância em entrar.
Lá me sentei num banco, com a companhia de uma centena de pessoas enquanto esperava que assistissem o meu colega. Ele entrou na salinha de 'curativos' e passado um pouco entra também uma senhora que pressionava um pano ensaguentado contra uma ferida na cabeça. Eu continuava sentado e só conseguia pensar 'Com as condições que têm aqui espero bem nunca precisar de ser assistido num centro de saúde'.
Passado um pouco lá aparece o meu colega já com um penso e diz-me que pediram para eu ir lá. Era preciso pagar a linha com que o tinham cosido. Ele já tinha pago 400Kz mas não chegava, faltavam 50 da linha e 200 da anestesía mais a vacina, eu ainda teria que pagar mais 450Kz.
Eu pedi que lhe devolvessem os 400Kz pois queria pagar a despesa toda. Dei 1000Kz e ficou pago.
Entretanto passaram uma receita com os comprimidos que o rapaz havia de tomar. Para quem não sabe uma receita nesta terra não passa de um papel de um daqueles blocos pequenos, que todos nós temos numa qualquer gaveta, mas em que cada página foi carimbada.
É apenas uma folha branca com um carimbo onde a enfermeira escreve o nome dos medicamentos a comprar. E perguntam vocês, 'Enfermeira? mas não é preciso ser médico para passar receitas?'.
Qual quê? Se a senhora algum dia estudou para enfermeira já era uma sorte, muito provavelmente aprendeu tudo o que sabe a trabalhar ali no centro de saúde. Ela sabia o nome dos medicamentos que queria passar mas receitou 21 comprimidos para tomar de 12 em 12h durante 7 dias.
Eu disse-lhe 'Se toma 2 por dia durante sete dias dá menos que 21, têm que ser 3 por dia para dar 21.' e ela decidiu alterar a receita para 8 em 8h.
Enquanto o meu colega foi apanhar a vacina do tétano eu fiquei sentado lá dentro da 'sala de curativos' onde estava a senhora (que mencionei antes) com um lenho na cabeça. Contaram (as duas enfermeiras, ou médicas) que a rapariga estava a lavar loiça quando caíu uma senhora pedra do telhado de zinco e fez uma ferida tal que tinha atingido um vaso. Como tinha ido a andar até ao centro chegou com o sangue quente e por isso, a ferida, espirrava sangue.
Lá me contou, enquanto apontava para o chão, que levantou o pano para ver a ferida e tinha saltado um jacto de sangue. Eu olhei horrorizado para o risco de sangue que estava pintado no chão e corria a pequena sala de um lado ao outro... felizmente a senhora já tinha um penso na cabeça e estavam à espera que a ferida acalmasse para a poderem coser.
A enfermeira chefe (pelos menos era a chefe delas as duas) disse para a senhora que acompanhava a da cabeça rachada 'Se ela tivesse ficado mais tempo lá em casa podia entrar em estado de choque por perder muito sangue' e eu pensei para mim próprio 'E será que aqui não vai entrar em choque por perder muito sangue? ou será que não vai acabar por apanhar uma infecção qualquer? afinal ainda não foi cosida e não.'
Nisto aparece um homem à janela, trazia um saco com medicamentos e disse que tinham custado mil Kwanzas, a enfemeira chefe pediu à enfermeira subalterna que confirmasse os medicamentos e perguntou se tinha receitado o 'schpirafernilfól' de 12 em 12h, ela replicou que tinha receitado de 8 em 8h e levou uma repreensão porque tinha que ser de 12 em 12, aquele medicamento não podia ser tomado de 8h em 8h. De seguida vira-se para mim e pergunta 'Já pagou?', 'Já paguei o quê?', 'Os medicamentos?', 'Quais medicamentos? não estou a perceber.', 'Esses aí, já não precisa ir à farmácia, nós tratámos de tudo e é mais barato, olhe que só pelo 'burfenilfalitílico' tavam a pedir 800Kz na farmácia ali do 'Ximbungo' e nós compramos por 200Kz'.
Fiquei meio desconfiado e preferia ter ido à farmácia comprar os medicamentos (sabe-se lá de onde é que aquilo veio, o mais provavel é que haja um chinês no fundo da rua a fabricá-los na hora) mas lá acabei por me deslocar até à janela, esticando-me todo para evitar pisar o risco de sangue que ninguém se preocupava em limpar, dar os 1000Kz ao homem que apareceu com os medicamentos.



Inicio da tarde:

Durante a tarde, enquanto estava num elevador entra um senhor. Era um chefe de cozinha, de uma cozinha que não vou especificar. Disse, 'Caramba, o homem já provou o vinho de quatro garrafas de 1000 dólares cada e não gostou de nenhuma, tenho que ir lá abaixo buscar uma outra que vale 1200 dólares'. Eu vi a nova garrafa, vinho português cujo nome não vou publicitar, de Évora, e custa em Angola 1200 dólares. Aprendi que é um dos melhores vinhos portugueses, senão o melhor, e que é feito apenas de 7 em 7 anos.
Conclusão, num almoço de terça-feira, apenas em vinho, alguém gastou mais de 5000 dólares de uma assentada só...
Não sei se aquela garrafa foi bebida ou não, mas pelo sim pelo não disse ao senhor que se não soubesse o que fazer com as garrafas rejeitadas mas podia entregar que eu encarregar-me-ia de lhes dar destino.
Infelizmente acabei por não receber nenhuma daquelas garrafas de 1000 dólares às quais faltavam apenas alguns mililitros mas foi por pouco que não estive de manhã na maior pobreza e à noite a deleitar-me com o melhor vinho.


Ah terra de contrastes, de manhã as pessoas passam dificuldades para conseguir pagar os mil kwanzas (10 dólares) da linha com que foram cosidas e à tarde não gostam do vinho de 1000 dólares por garrafa.

Como será que vai ser a manhã de amanhã?

domingo, 18 de abril de 2010

Cabo Ledo


Fui para a praia de Cabo Ledo.
Uma praia bonita, com muita água e muito sol, tirei algumas fotos.
Depois de uma bela manhã de molho dentro de água fomos almoçar umas lagostas, um pargo grelhado, umas cervejas e três horas a almoçar.
Três horas? ... será que comemos muito? ... será que comemos devagar pois havia muita conversa?
Nada disso.
Mal chegámos à praia tratámos de reservar almoço, duas lagostas para cada um.
Um pouco antes do meio dia vamos para a mesa que está reservada... passados uns dez minutos aparecem-nos as lagostas à frente... era só uma e meia pois ali não era vendida à peça mas sim à dose que era de apenas uma e meia. Como ficámos com alguma fomeca pedimos para trazer um peixito grelhado e dois pratos pois iríamos dividi-lo.
Até aqui muito bem... esperámos e vimos o pessoal na praia ir à água, voltar, secar, ir à água de novo, secar de novo, voltar à água... o peixe demorou mais de hora e meia para chegar e o rapaz que nos atendia não aparecia em lado nenhum nem para lhe pedirmos uma cervejola.
Depois de apanharmos uma grande seca o peixe aparece mas vem apenas num prato, 'Olha, traz dois pratinhos se faz favor que é para dividirmos o peixe e traz também duas cervejas geladinhas'. Enquanto esperávamos lembrei-me e disse para o meu colega, 'eh pá se calhar devíamos ter dito ao rapaz para trazer também garfo e faca, de certeza que ele vai aparecer aqui só com os pratos'. E foi? ... Não ... passados uns cinco minutos apareceu com duas cervejas, o meu colega diz 'Olha, traz os pratos por favor que é para comermos o peixe' e eu acrescento 'e traz também faca e garfo'. Passados dois ou três minutos aparece o rapaz com duas facas e dois garfos, 'Olha, mas traz os pratinhos para podermos comer, por favor'... tudo isto  com um enxame de moscas esfomeadas a cobiçarem o nosso peixe e algumas mais afoitas que se esgueiraram por entre as nossas 'mãos sacudidoras' a conseguirem prová-lo mesmo antes de nós.
O rapaz lá acabou por trazer os pratos mas foi já depois de eu ter desesperado e me ter levantado para ir à cozinha buscar os pratos.

Daqui até Cabo Ledo há centenas de quilómetros de praias completamente desertas.


Até outro dia,
Bernardo.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Luanda vista de cima



Escrevo apenas para dizer que foram acrescentadas algumas fotografias ao álbum.
Hoje estive no heliporto do edifício sede da Sonangol e deu para tirar algumas fotografias de Luanda vista de cima.


Até outro dia,
Bernardo.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Ai Angola... Angola...

Hoje fiquei abismado.
Como a internet dá um jeitão para falar com a família sem gastar muito dinheiro fui ver os preços da internet em Angola e nunca esperei algo assim.
Há empresas que, mediante o pagamento de 20 dólares americanos por mês, oferecem uma espetacular ligação telefónica de 54Kbit/s... mas que raio, ainda há modems de ligação telefónica a serem fabricados neste mundo? 54Kbit/s??? o que é isto? será que a página está desactualizada 15 anos?
Eu lembro-me da minha primeira ligação à internet. Foi em 1995, ligava eu por telefone e tinha um modem de 54Kbit/s. Ninguém conseguia telefonar lá para casa enquanto eu estava na internet e no fim do mês o meu pai pagava contas astronómicas à PT porque eu tinha passado uma ou duas horas de vez em quando na internet. Ainda se vende disto? Prefiro acreditar que alguém fez a página há 15 anos atrás e se esqueceu de a actualizar porque não é possível que ainda haja quem pague 20 dólares + a conta de telefone por uma ligação de 54Kbit/s.
Felizmente também há a TVCabo Angola e uma pessoa pensa 'uff... afinal há mesmo internet em Angola' mas depressa voltamos a ser invadidos pela tristeza quando se olha aos preços e velocidades.
192Kbit/s custam a módica quantia de 70 dólares americanos + 30 pelo pacote básico de TV.
Um preço pelo qual, no Porto, se consegue um MEO Fibra com TV, telefone e Internet a mais de 30Mbit/s ou uma Fibra da TVCabo com internet a 50 ou 100Mbit/s.
Uma pessoa pensa 'eh pá, 192Kbit não dá para falar com a família no Skype, deixa-me cá ver se há um pacote melhorzinho':
320Kbit/s - 100 US$
640Kbit/s - 200 US$
1Mbit/s - 320 US$
4Mbit/s - 450 US$
Mas que raio! será que há quem pague mais de 300 dólares apenas por internet?
E a televisão? o pacote básico por 30 US$ até nem é mau, mas para ter o AXN, FOX e SIC Noticias é preciso passar ao pacote seguinte... pela módica quantia de 100US$.
É um salto um pedacinho grande...

Afinal, falar com a família vai sair sempre caro... seja lá como for.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Aventuras de um recém emigrado em Angola

Boas,

Emigrado que estou há aproximadamente uma semana em Luanda, Angola decidi este fim de semana de Páscoa dedicar-me à escrita. Infelizmente passei o fim de semana todo sem internet, televisão ou sequer electricidade (felizmente há um gerador) pelo que não pude criar o blog nos dias em que escrevi estas linhas.

Nota: um Kwanza vale 0,8 cêntimos de euro, eu como não gosto muito de fazer contas faço os câmbios a 1 Kwanza = 1 cêntimo assim penso sempre que gastei mais do que realmente gastei e não preciso fazer contas nenhumas.


03-04-2010:


Chegado há menos de uma semana a Luanda já me estava a ambientar à coisa... tudo é caro, a cidade não é própriamente bonita, há sempre muito transito e muito lixo por todo o lado, 30º deve ser a temperatura mínima mas não é nada que não se aguente.
Já tinha ouvido falar das 'gasosas' nos blogues de outros emigrados, que li antes de vir, mas durante a minha primeira semana de estadia nunca, qualquer carro onde eu circulasse, foi mandado parar pela polícia.
Pois bem, hoje, quando voltavamos do supermercado tivemos um acidente. Um scootard (motard de scooter) ia algo depressa demais e quando viu a nossa carrinha já era tarde para parar.
Embateu no pneu e raspou uma perna, como nós estavamos a entrar numa rua, sem qualquer sinal de proibição mas que alguém convencionou como sendo de sentido único a culpa foi nossa (a mota não tinha travões, o bacano vinha depressa que nem um louco, nós somos estrangeiros e para toda a gente que estava ali aquela rua era de sentido único).
Conclusão:
Tivemos que levar o rapaz a uma clinica e pagar todas as despesas, ir à farmácia e comprar tudo o que era necessário e no fim, para os polícias não nos passarem uma multa por entrar numa rua de sentido único (mas sem sinal) ao contrário, tivemos que dar uma 'ajuda'... foram bastante simpáticos e 1000Kz chegaram para podermos ir descansados.
Pensei eu com os meus botões, até não é assim tão mau.

Saímos de lá e ainda não tinhamos andado 500m um outro policia manda-nos encostar, pedíu os documentos e pegou com um deles. Um papel provisório escrito à mão tinha na data uns números algo dúbios e ele decidiu que '.. agora vou ter que apreender a viatura' pois não podiamos circular com aquele documento assim.
Entrou no carro para o banco de trás (procedimento habitual), onde já ìa eu e um monte de sacos de compras e mandou-nos seguir para a 'esquadra de S. Paulo' que só por acaso é num 'musseque'. Ainda antes de chegarmos os meus colegas perguntaram ao Sr. Agente se havia uma forma de resolver a questão pois não era necessário ir até à esquadra ao que ele respondeu que agora teríamos que ir até à esquadra senão ele não tinha como ir para lá mas que podíamos parar uns metros antes para conversar.
Quando estamos perto e já se vê a esquadra a uns 300m ele pede-nos para parar e diz que se lhe dermos 15.000Kz estamos safos. 15.000Kz é muito dinheiro e é bem mais do que tínhamos ou estávamos dispostos a dar pelo que lhe dissemos logo que o carro iria ficar apreendido pois só tínhamos 2.000Kz. Ele replicou 'vocês não tão a ver bem a coisa... isto é assunto para ficarem sem o carro umas duas semanas. Se vocês não conseguem arranjar 6.000Kz têm que telefonar a alguém para vos vir buscar'.
Oferecemos uma garrafa de whisky, ao que nos informou que não bebia alcool. Mandou-nos estacionar o carro logo ali (a uns 300m da esquadra) pois ali era 'o parque das viaturas apreendidas', apareceram logo 3 manfios e depois de alguma negociação lá ficámos com 2.000Kz e uma garrafa de whisky a menos.
Eventualmente, acabámos por chegar a casa... mas foi um dia mesmo azarado.

Para que tenham uma ideia do custo de vida em Luanda deixo os preços do supermercado:
- Manteiga Mimosa - 790,00Kz
- Leite Mimosa - 236,60Kz
- Pão de Mafra Peq. - 53,70Kz
- Lata de Guaraná - 75,00Kz
- Pão Bola - 18,00Kz
- Azeite (250ml) - 340,00Kz
- Arroz - 180,00Kz
- Chourição (200g) - 253,82Kz
- Maçã (1Kg) - 445,00Kz
- Batata (1Kg) - 270,00Kz
- Ovos (1/2 dúzia) - 260,00Kz

Atenção: eu frequento supermercados reconhecidamente caros. Fazem lembrar um 'Modelo Bonjour' ou 'Pingo Doce' onde se encontra de tudo. Há sitios mais pequenos e com 'não tão bom aspecto' onde é possivel que os preços sejam mais baixos (eu não sei pois nunca entrei em nenhum). A fruta, legumes e muitas outras coisas podem ser compradas na rua a preços melhores, mas penso que dá jeito saber negociar.
Já comprei na rua 'fruta pinha' a 500Kz cada 10, maracujás amarelos do tamanho de laranjas grandes e é sempre caro... mas penso que no supermercado é mais, para além de que me esqueci de regateear o preço.

Quanto a comer em restaurantes, nos sítios mais acessíveis (sitios para estrangeiro comer, não estou a falar dos 'sitios realmente baratos onde um europeu não pensaria entrar') consegue-se comer com pouco mais de 1.500Kz, na grande maioria dos sítios acaba-se por se gastar ente os dois e os três mil Kwanzas.
Quem gosta de comer e beber bem pode contar mais com contas à volta dos 3.000Kz por refeição.
Para quem fôr aventureiro e quiser comer mesmo barato, à hora do almoço há pessoas que andam na rua com umas caixas plásticas grandes à cabeça e estas estão cheias de caixinhas de alumínio (como as das refeições dos aviões) e têm almoço para todos os gostos por 100Kz mas eu nunca experimentei, por isso, não posso dizer se é comestível ou não. Há ainda umas senhoras que têm pão dentro de umas bacias e fazem umas sandochas na hora mas essas eu não aconselho ninguém a comer pois as moscas passeiam-se pela refeição enquanto está na bacia.



04-04-2010:



Hoje fui à praia, fui à 'Barra do Dande'.
Uma praia espetacular, com coqueiros (que tinham cocos) e palmeiras e uma água mesmo quente, completamente morna, de tão quente passei as duas horas que estivemos na praia sempre dentro de água à procura das zonas com a água um pouco mais fria para me refrescar.
Num intervalinho que fiz entre 'demolhas' passeei um pouco pela praia que 50m para o lado estava completamente deserta. Pois bem, há milhares de 'cangarejos' na praia, pequeninos, ficam a apanhar sol no limiar água-terra e conforme eu ía andando eles fugiam muito depressa, uns para água, outros para uns buracos na areia que já antes tinha visto e me tinha perguntado que bicharoco os faria e para quê.
A dada altura cruzei-me com um 'cangarejo' enorme (para mim enorme é práí com metado do tamanho de uma sapateira) com o qual fiz amizade, este não era mega-veloz como os pequeninos que fugiam a sete pés e fugia de mim devagar, tão devagar que dava a impressão que eu o poderia apanhar se fizesse um movimento brusco, não fiz pois não o queria assustar.
Ele estava confortavel desde que estivesse a um metro de distância de mim, eu dava um passo, ele afastava-se lentamente até ficar a um metro de mim e parava, mais um passo, ele andava de novo.
Tirei-lhe umas fotos para o album de recordações e fui 'danar' mais um pouco pois o sol já me estava a queimar as costas.

No caminho para a praia vi estradas como nunca tinha visto... a estada que dá acesso a Luanda tem buracos do tamanho de camiões, nem sei como é que os 'não 4x4' conseguem andar por lá.
Tenho a certeza absoluta que o componente para automóvel que mais desgaste sofre neste país é a 'suspensão', só não digo que um negócio de venda amortecedores dava para enriquecer porque me parece que aqui quando uma peça se estraga anda-se com ela estragada e pronto. Há carros e camiões com os vidros em tal estado que tenho a certeza que o condutor conduz apenas por instinto pois ver não vê nada.


Aqui fica link para o álbum de fotografias:
http://picasaweb.google.com/bernardo.marques/FotosAngola#

Até à proxima,
Bernardo.