domingo, 18 de abril de 2010

Cabo Ledo


Fui para a praia de Cabo Ledo.
Uma praia bonita, com muita água e muito sol, tirei algumas fotos.
Depois de uma bela manhã de molho dentro de água fomos almoçar umas lagostas, um pargo grelhado, umas cervejas e três horas a almoçar.
Três horas? ... será que comemos muito? ... será que comemos devagar pois havia muita conversa?
Nada disso.
Mal chegámos à praia tratámos de reservar almoço, duas lagostas para cada um.
Um pouco antes do meio dia vamos para a mesa que está reservada... passados uns dez minutos aparecem-nos as lagostas à frente... era só uma e meia pois ali não era vendida à peça mas sim à dose que era de apenas uma e meia. Como ficámos com alguma fomeca pedimos para trazer um peixito grelhado e dois pratos pois iríamos dividi-lo.
Até aqui muito bem... esperámos e vimos o pessoal na praia ir à água, voltar, secar, ir à água de novo, secar de novo, voltar à água... o peixe demorou mais de hora e meia para chegar e o rapaz que nos atendia não aparecia em lado nenhum nem para lhe pedirmos uma cervejola.
Depois de apanharmos uma grande seca o peixe aparece mas vem apenas num prato, 'Olha, traz dois pratinhos se faz favor que é para dividirmos o peixe e traz também duas cervejas geladinhas'. Enquanto esperávamos lembrei-me e disse para o meu colega, 'eh pá se calhar devíamos ter dito ao rapaz para trazer também garfo e faca, de certeza que ele vai aparecer aqui só com os pratos'. E foi? ... Não ... passados uns cinco minutos apareceu com duas cervejas, o meu colega diz 'Olha, traz os pratos por favor que é para comermos o peixe' e eu acrescento 'e traz também faca e garfo'. Passados dois ou três minutos aparece o rapaz com duas facas e dois garfos, 'Olha, mas traz os pratinhos para podermos comer, por favor'... tudo isto  com um enxame de moscas esfomeadas a cobiçarem o nosso peixe e algumas mais afoitas que se esgueiraram por entre as nossas 'mãos sacudidoras' a conseguirem prová-lo mesmo antes de nós.
O rapaz lá acabou por trazer os pratos mas foi já depois de eu ter desesperado e me ter levantado para ir à cozinha buscar os pratos.

Daqui até Cabo Ledo há centenas de quilómetros de praias completamente desertas.


Até outro dia,
Bernardo.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Luanda vista de cima



Escrevo apenas para dizer que foram acrescentadas algumas fotografias ao álbum.
Hoje estive no heliporto do edifício sede da Sonangol e deu para tirar algumas fotografias de Luanda vista de cima.


Até outro dia,
Bernardo.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Ai Angola... Angola...

Hoje fiquei abismado.
Como a internet dá um jeitão para falar com a família sem gastar muito dinheiro fui ver os preços da internet em Angola e nunca esperei algo assim.
Há empresas que, mediante o pagamento de 20 dólares americanos por mês, oferecem uma espetacular ligação telefónica de 54Kbit/s... mas que raio, ainda há modems de ligação telefónica a serem fabricados neste mundo? 54Kbit/s??? o que é isto? será que a página está desactualizada 15 anos?
Eu lembro-me da minha primeira ligação à internet. Foi em 1995, ligava eu por telefone e tinha um modem de 54Kbit/s. Ninguém conseguia telefonar lá para casa enquanto eu estava na internet e no fim do mês o meu pai pagava contas astronómicas à PT porque eu tinha passado uma ou duas horas de vez em quando na internet. Ainda se vende disto? Prefiro acreditar que alguém fez a página há 15 anos atrás e se esqueceu de a actualizar porque não é possível que ainda haja quem pague 20 dólares + a conta de telefone por uma ligação de 54Kbit/s.
Felizmente também há a TVCabo Angola e uma pessoa pensa 'uff... afinal há mesmo internet em Angola' mas depressa voltamos a ser invadidos pela tristeza quando se olha aos preços e velocidades.
192Kbit/s custam a módica quantia de 70 dólares americanos + 30 pelo pacote básico de TV.
Um preço pelo qual, no Porto, se consegue um MEO Fibra com TV, telefone e Internet a mais de 30Mbit/s ou uma Fibra da TVCabo com internet a 50 ou 100Mbit/s.
Uma pessoa pensa 'eh pá, 192Kbit não dá para falar com a família no Skype, deixa-me cá ver se há um pacote melhorzinho':
320Kbit/s - 100 US$
640Kbit/s - 200 US$
1Mbit/s - 320 US$
4Mbit/s - 450 US$
Mas que raio! será que há quem pague mais de 300 dólares apenas por internet?
E a televisão? o pacote básico por 30 US$ até nem é mau, mas para ter o AXN, FOX e SIC Noticias é preciso passar ao pacote seguinte... pela módica quantia de 100US$.
É um salto um pedacinho grande...

Afinal, falar com a família vai sair sempre caro... seja lá como for.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Aventuras de um recém emigrado em Angola

Boas,

Emigrado que estou há aproximadamente uma semana em Luanda, Angola decidi este fim de semana de Páscoa dedicar-me à escrita. Infelizmente passei o fim de semana todo sem internet, televisão ou sequer electricidade (felizmente há um gerador) pelo que não pude criar o blog nos dias em que escrevi estas linhas.

Nota: um Kwanza vale 0,8 cêntimos de euro, eu como não gosto muito de fazer contas faço os câmbios a 1 Kwanza = 1 cêntimo assim penso sempre que gastei mais do que realmente gastei e não preciso fazer contas nenhumas.


03-04-2010:


Chegado há menos de uma semana a Luanda já me estava a ambientar à coisa... tudo é caro, a cidade não é própriamente bonita, há sempre muito transito e muito lixo por todo o lado, 30º deve ser a temperatura mínima mas não é nada que não se aguente.
Já tinha ouvido falar das 'gasosas' nos blogues de outros emigrados, que li antes de vir, mas durante a minha primeira semana de estadia nunca, qualquer carro onde eu circulasse, foi mandado parar pela polícia.
Pois bem, hoje, quando voltavamos do supermercado tivemos um acidente. Um scootard (motard de scooter) ia algo depressa demais e quando viu a nossa carrinha já era tarde para parar.
Embateu no pneu e raspou uma perna, como nós estavamos a entrar numa rua, sem qualquer sinal de proibição mas que alguém convencionou como sendo de sentido único a culpa foi nossa (a mota não tinha travões, o bacano vinha depressa que nem um louco, nós somos estrangeiros e para toda a gente que estava ali aquela rua era de sentido único).
Conclusão:
Tivemos que levar o rapaz a uma clinica e pagar todas as despesas, ir à farmácia e comprar tudo o que era necessário e no fim, para os polícias não nos passarem uma multa por entrar numa rua de sentido único (mas sem sinal) ao contrário, tivemos que dar uma 'ajuda'... foram bastante simpáticos e 1000Kz chegaram para podermos ir descansados.
Pensei eu com os meus botões, até não é assim tão mau.

Saímos de lá e ainda não tinhamos andado 500m um outro policia manda-nos encostar, pedíu os documentos e pegou com um deles. Um papel provisório escrito à mão tinha na data uns números algo dúbios e ele decidiu que '.. agora vou ter que apreender a viatura' pois não podiamos circular com aquele documento assim.
Entrou no carro para o banco de trás (procedimento habitual), onde já ìa eu e um monte de sacos de compras e mandou-nos seguir para a 'esquadra de S. Paulo' que só por acaso é num 'musseque'. Ainda antes de chegarmos os meus colegas perguntaram ao Sr. Agente se havia uma forma de resolver a questão pois não era necessário ir até à esquadra ao que ele respondeu que agora teríamos que ir até à esquadra senão ele não tinha como ir para lá mas que podíamos parar uns metros antes para conversar.
Quando estamos perto e já se vê a esquadra a uns 300m ele pede-nos para parar e diz que se lhe dermos 15.000Kz estamos safos. 15.000Kz é muito dinheiro e é bem mais do que tínhamos ou estávamos dispostos a dar pelo que lhe dissemos logo que o carro iria ficar apreendido pois só tínhamos 2.000Kz. Ele replicou 'vocês não tão a ver bem a coisa... isto é assunto para ficarem sem o carro umas duas semanas. Se vocês não conseguem arranjar 6.000Kz têm que telefonar a alguém para vos vir buscar'.
Oferecemos uma garrafa de whisky, ao que nos informou que não bebia alcool. Mandou-nos estacionar o carro logo ali (a uns 300m da esquadra) pois ali era 'o parque das viaturas apreendidas', apareceram logo 3 manfios e depois de alguma negociação lá ficámos com 2.000Kz e uma garrafa de whisky a menos.
Eventualmente, acabámos por chegar a casa... mas foi um dia mesmo azarado.

Para que tenham uma ideia do custo de vida em Luanda deixo os preços do supermercado:
- Manteiga Mimosa - 790,00Kz
- Leite Mimosa - 236,60Kz
- Pão de Mafra Peq. - 53,70Kz
- Lata de Guaraná - 75,00Kz
- Pão Bola - 18,00Kz
- Azeite (250ml) - 340,00Kz
- Arroz - 180,00Kz
- Chourição (200g) - 253,82Kz
- Maçã (1Kg) - 445,00Kz
- Batata (1Kg) - 270,00Kz
- Ovos (1/2 dúzia) - 260,00Kz

Atenção: eu frequento supermercados reconhecidamente caros. Fazem lembrar um 'Modelo Bonjour' ou 'Pingo Doce' onde se encontra de tudo. Há sitios mais pequenos e com 'não tão bom aspecto' onde é possivel que os preços sejam mais baixos (eu não sei pois nunca entrei em nenhum). A fruta, legumes e muitas outras coisas podem ser compradas na rua a preços melhores, mas penso que dá jeito saber negociar.
Já comprei na rua 'fruta pinha' a 500Kz cada 10, maracujás amarelos do tamanho de laranjas grandes e é sempre caro... mas penso que no supermercado é mais, para além de que me esqueci de regateear o preço.

Quanto a comer em restaurantes, nos sítios mais acessíveis (sitios para estrangeiro comer, não estou a falar dos 'sitios realmente baratos onde um europeu não pensaria entrar') consegue-se comer com pouco mais de 1.500Kz, na grande maioria dos sítios acaba-se por se gastar ente os dois e os três mil Kwanzas.
Quem gosta de comer e beber bem pode contar mais com contas à volta dos 3.000Kz por refeição.
Para quem fôr aventureiro e quiser comer mesmo barato, à hora do almoço há pessoas que andam na rua com umas caixas plásticas grandes à cabeça e estas estão cheias de caixinhas de alumínio (como as das refeições dos aviões) e têm almoço para todos os gostos por 100Kz mas eu nunca experimentei, por isso, não posso dizer se é comestível ou não. Há ainda umas senhoras que têm pão dentro de umas bacias e fazem umas sandochas na hora mas essas eu não aconselho ninguém a comer pois as moscas passeiam-se pela refeição enquanto está na bacia.



04-04-2010:



Hoje fui à praia, fui à 'Barra do Dande'.
Uma praia espetacular, com coqueiros (que tinham cocos) e palmeiras e uma água mesmo quente, completamente morna, de tão quente passei as duas horas que estivemos na praia sempre dentro de água à procura das zonas com a água um pouco mais fria para me refrescar.
Num intervalinho que fiz entre 'demolhas' passeei um pouco pela praia que 50m para o lado estava completamente deserta. Pois bem, há milhares de 'cangarejos' na praia, pequeninos, ficam a apanhar sol no limiar água-terra e conforme eu ía andando eles fugiam muito depressa, uns para água, outros para uns buracos na areia que já antes tinha visto e me tinha perguntado que bicharoco os faria e para quê.
A dada altura cruzei-me com um 'cangarejo' enorme (para mim enorme é práí com metado do tamanho de uma sapateira) com o qual fiz amizade, este não era mega-veloz como os pequeninos que fugiam a sete pés e fugia de mim devagar, tão devagar que dava a impressão que eu o poderia apanhar se fizesse um movimento brusco, não fiz pois não o queria assustar.
Ele estava confortavel desde que estivesse a um metro de distância de mim, eu dava um passo, ele afastava-se lentamente até ficar a um metro de mim e parava, mais um passo, ele andava de novo.
Tirei-lhe umas fotos para o album de recordações e fui 'danar' mais um pouco pois o sol já me estava a queimar as costas.

No caminho para a praia vi estradas como nunca tinha visto... a estada que dá acesso a Luanda tem buracos do tamanho de camiões, nem sei como é que os 'não 4x4' conseguem andar por lá.
Tenho a certeza absoluta que o componente para automóvel que mais desgaste sofre neste país é a 'suspensão', só não digo que um negócio de venda amortecedores dava para enriquecer porque me parece que aqui quando uma peça se estraga anda-se com ela estragada e pronto. Há carros e camiões com os vidros em tal estado que tenho a certeza que o condutor conduz apenas por instinto pois ver não vê nada.


Aqui fica link para o álbum de fotografias:
http://picasaweb.google.com/bernardo.marques/FotosAngola#

Até à proxima,
Bernardo.