sábado, 5 de março de 2011

Bolos e bolinhos

Aqui há uns tempos fui comprar uns bolinhos para adoçar o bico à minha Tina.
Entrei na pastelaria, dirijo-me ao rapaz que está na caixa de pré-pagamento e aqui sublinho o facto de ser pré-pagamento e digo:

Eu:       - Bom dia, quero três bolos, por favor.
Caixa:  - Três bolas, é? Três bolas de berlim?
Eu:       - Não, são três bolos mas são outros.
Caixa:  - Quais?
Eu:       - Este, hm... e... hm... este, e...
Caixa:   - Manel, atende aqui este senhor.
Manel:  - Sim?
Eu:       - Quero três bolos por favor.
Manel:  - Quais são?
Eu:       - (Enquanto aponto) Este, este e hm... hm... deixa cá ver... este.

O Manel vira-se para o rapaz do balcão que não tinha mais ninguém para atender e esteve o tempo todo a olhar para nós e diz enquanto aponta:

Manel:  - Olha, são três bolos, este e este e... hm... qual era?
Eu:        - Este.

O rapaz do balcão vai com muita calma buscar uma caixinha, leva o seu tempo para a montar e entretanto o Manel vai atender nas mesas, o rapaz do balcão mete um bolo dentro da caixa e pára. Eu espero enquanto olho para ele, ele olha para mim enquanto espera... eu pergunto-me de que estaremos à espera, ele também deve perguntar algo a si próprio, mas eu não sei o quê, continuo à espera e ele continua à espera. Até que aparece o Manel e o rapaz do balcão pergunta:

Balcão: - Quais são os bolos do senhor?
Manel:  - Este, este e... hm... qual era?
Eu ainda estou atordoado por ter estado aquele tempo todo à espera que o Manel nos viesse dizer quais eram os bolos que eu queria... mas digo 'Este aqui' enquanto aponto para o bolo que faltava.

Uma pessoa normal já fica a pensar 'poxa... até parece que não falam a mesma lingua' mas a história não acaba aqui. O Manel vira-se para o rapaz da caixa e diz:

Manel:  - Olha, foi um bolo destes, e... hã... hm... acho que outro destes... e... hm... 
Caixa:   - São três de 'pastelaria diversa', não é?

Tudo seria tão facil se eu soubesse dizer logo à partida que queria três de 'pastelaria diversa'.

Até outro dia,
Bernardo.

Incongruências do mundo real


Imaginem que um de vocês que vivem na metade de cima do mundo, vai um dia ao cinema ver um qualquer filme... nesse filme aparecem cenas estranhas como um senhor muito janota e finório, com ar de ser bastante endinheirado a ser deixado pelo seu motorista na porta do edifício onde vive, o mais podre e velho que vocês alguma vez viram, com as paredes exteriores e interiores todas graffitadas com gatafunhos ilegíveis, num bairro cheio de buracos com esgotos sem tampa que jorram água negra e perfumada para a estrada, a entrada do edifício em terra, cheia de poças de água criadas pelo constante gotejar de dezenas de tubos pendurados de ares condicionados. Os vizinhos desse senhor vivem no mesmo edifício e alguns não têm motorista mas no estacionamento os veículos fazem inveja às melhores garagens onde cada veículo quer ser maior que todos os outros, Porsche Cayenne, Land Cruiser Prado, Ford F150, Toyota Tundra, Chevrolet Avalanche entre outros gigantes.
Umas cenas depois aparece um jovem, que vive numa barraca no meio do lixo onde não tem água canalizada e luz só de vez em quando mas aparece a jogar na sua Playstation 3. Uma senhora, mãe solteira, que trabalha para ganhar uns 400 dólares americanos compra uma bicicleta, uma PSP e uma Playstation3 como presentes de Natal para o seu filho de sete anos de idade e compra um computador portatil para sí, tudo no mesmo Natal.
Penso que qualquer um de vós, ainda a meio do filme vai dizer 'duh... acho que desta vez o Woody Allen se passou demais, onde raio foi ele buscar estas ideias?'.

Pois bem... basta vir até esta metade do mundo e olhar um pouco pela janela para ver este filme.

Até à próxima,
Bernardo