Hoje, numa viagem de trabalho passei pelo Dondo, uma pequena
cidade da província do Kwanza Norte.
Andava eu por lá a tirar umas fotografias ao
rio quando passa por mim e pelo meu colega Eduardo, que foi comigo, um grupo de
quatro marmanjos. Qual não é quando de repente e assim do nada alguém que eu
não conheço de lado nenhum passou a ser a pessoa por quem, eu, mais
consideração tenho neste mundo. Então não é que enquanto bebia uma cervejola e ia
andando pelo caminho um deles, com a mão que tinha livre, saca o instrumento de
fora e sem que nada o detivesse das outras duas tarefas (caminhar e emborcar o
conteúdo da garrafa de cerveja pela goela abaixo) começou a libertar os fluídos
corporais que tinha em excesso. Caramba, vocês já viram, o rapaz conseguia
fazer as três coisas ao mesmo tempo o que já de si é uma acrobacia, no mínimo, de difícil execução mas traz também inúmeras vantagens.
Para começar ia regando o caminho, que por ser de terra e estar um dia de calor
imenso levanta pó, estando a terra humedecida não há pó, um favor que fez à
comunidade. Depois o rapaz tinha pago pela cerveja e estando já cheio ele conseguiu,
enquanto ia bebendo, criar no interior de si próprio espaço para a cerveja que
restava na garrafa, um favor que fez a si próprio. Fez isto tudo sem abandonar
por um instante que fosse os seus três amigos que, tenho como certo, muito
prezam a sua companhia, um favor que fez aos amigos.
Naquele momento deu-me vontade de não deixar passar a
oportunidade de conhecer tamanha personalidade mas, felizmente, de rompante
atingiu-me na cabeça a ideia de que assim que eu o interpelasse ele se iria
voltar para ver quem estaria a falar com ele (uma quarta tarefa que não tenho
dúvidas conseguiria ainda fazer sem ter que interromper nenhuma das outras) e
ao voltar-se poderia por instantes perder o controlo do jacto de liquido que
estava a libertar e estando a voltar-se para mim eu corria sérios riscos de ser
regado com liquido morno, o que numa tarde de calor, com o sol a queimar todos
os pedaços de pele não cobertos e com a careca coberta de suor, presumo não ser
nada de agradável.
Deixem-me dizer-vos que aqui por estas paragens é comum ver o zingarelho de um qualquer jovem a se aliviar voltado para a estrada ou senhoras a
libertarem-se do que as aflige no passeio ou numa qualquer berma de estrada,
não foi o instrumento do rapaz que me impressionou nem o facto de ele despudoradamente
se libertar no caminho, isso é normal, foi mesmo o facto de ele conseguir fazer
tudo em simultâneo.
A caminho de Luanda, a uns 112Km da cidade, uns 500m antes
da cortada para Malange, vinha eu entretido na minha tarefa de conduzir, concentrado
em desviar-me dos buracos da estrada (pobre Suzuki Jimny, perdeu pelo menos
três anos de vida hoje, houve alturas em que pensei que ia rebentar ambos os
pneus da frente ou partir o eixo da direcção, o raio dos buracos têm a mania de
aparecer do nada sempre quando um gajo já vai a 100 ou 120Km/h, por vezes não
dão grandes hipóteses) e dos camiões dos chineses (os chineses proliferam por estas paragens que nem coelhos, aconteceu-me hoje encontrar de uma só assentada quatro camiões de chineses em contramão a ultrapassar outros oito exactamente no momento em que nós decidimos estar a passar naquela estrada) quando os olhos atentos do Eduardo viram algo diferente
e ele perguntou, ‘hei, o engenheiro já viu aquilo?’. Pois bem, era um bosque
diferente, um bosque em que as pequenas ervas comem árvores grandes, havia até
imbondeiros a ser completamente devorados pela gula daquelas pequenas folhas. Parece
que alguém fez um gigantesco lençol de pequenas folhas e o atirou para cima do
bosque, ou talvez tenha nevado folhas que ao cair, tal como a neve, cobriram o
bosque por inteiro. Tirei umas fotos que pus no álbum (já antes pus umas outras sem
vos dizer nada), mas não me atrevi a pôr os pés num bosque sem chão onde as
folhas comem árvores... tenho a certeza que se me tivesse dado para entrar não
estaria agora aqui pois teria sido devorado pelas folhas num instante.
Tenho cá
para mim que aquele bosque foi amaldiçoado por um qualquer kimbanda há milénios
atrás e desde então aquelas folhas malditas comem tudo o que se lhes atravessa
no caminho (ou também pode dar-se o caso de o rapaz, meu ídolo de que vos falei
há poucas linhas atrás, passar por lá habitualmente e dever-se a isso o facto
daquelas ervas crescerem tão viçosas).
Aqueles de vocês que quiserem ver as fotos vejam as últimas do album em https://picasaweb.google.com/117986880837828270606/FotosAngola
Não sei se volto,
Bernardo.
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A minha impressão do Dondo de há quase três anos não foi tão má. Na altura já os chineses estavam a reconstruir a estrada - e parece que ainda não acabaram.
ResponderEliminarMas confirmo que os angolanos urinam em qualquer lugar.